Expectativas e nossas decisões financeiras

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O dilema do ovo, da galinha e suas expectativas financeiras! 

Você já parou para pensar quem veio primeiro? Se o ovo ou a galinha? Pois bem, a economia tem seus próprios “ovos e galinhas”.  

E, acredite ou não, suas expectativas a respeito do que vai acontecer podem dar forma a esse dilema. 

Imagine que você veja um post ou escute numa conversa com amigos, alguém que você conhece, e acha que é inteligente – mas nem por isso entende de finanças ou de economia – dizer:  

  • Ai, meu Deus! Lembra quando tudo subia de preço todo dia? Eu corria para o supermercado antes que o arroz virasse ouro! 

E, sem perceber, a pessoa já estava estocando macarrão, arroz e feijão em sua despensa, como se esperasse um apocalipse inflacionário. 

Para quem não viveu no final dos anos 1980, começo dos anos 1990, talvez não saiba e, com certeza não experienciou, como é ver o preço de todas as coisas subindo diariamente. Em março de 1990 chegamos a ter uma inflação de 84% ao mês! 

Quem viveu este período ficou com o registro de que os preços podem, sim, disparar de forma incontrolável a qualquer momento. 

Para dar uma aliviada no efeito deste descontrole dos preços, criou-se um sistema chamado de “correção monetária”. Aplicava-se o índice da inflação a tudo para “parecer” que os preços não subiram, foram apenas “corrigidos”. 

É a tal da “memória inflacionária”. Muitos brasileiros, ainda se lembram desses tempos e, assim que desconfiam que a inflação pode subir, aumentam o preço das coisas só por… bem, expectativa. 

Vamos olhar o outro lado da moeda: imagine o João, que todos os dias olha sua aplicação na bolsa, vê a situação do país meio instável e pensa:  

-Hum… acho que o valor das minhas ações vai cair. 

E, como em um efeito dominó, ele vende suas ações. Se ele for um grande investidor, ou espalhar aos quatro ventos que sua profecia tem muitas chances de acontecer, muitas pessoas vão repetir o mesmo comportamento, fazendo com que o preço delas caia de verdade.  

É como se o ovo (nossa expectativa) fizesse a galinha (a realidade) existir. 

Agora, a cereja do bolo: os planos de previdência fechados.  

Imagine a cena: um auditório lotado de investidores.  

No palco, um mágico, no caso um gestor de fundos para pessoas físicas que, pressionado pelas expectativas dos presentes, tenta prever o que vai acontecer na economia e qual será o próximo bom investimento.  

Ele vê que todos no mercado estão investindo em renda fixa porque ela está rendendo mais. O gestor compra mais papéis de renda fixa, muitas vezes, inclusive, pressionado pelos investidores.  

Vamos pintar uma cena: num happy hour, a Ana, participante de um desses planos de previdência fechados, comenta com seus amigos: “Vi em uma palestra de um assessor que Aa renda fixa está rendendo bem, hein? Estou pensando em mudar meu perfil de investimento na previdência“.  

O amigo ao lado, ouvindo isso, decide fazer o mesmo. E, como um efeito cascata, outros participantes do plano seguem o movimento, criando uma verdadeira dança das cadeiras financeiras. 

Porém, o futuro é incerto e, de repente, os ativos de renda variável viram os queridinhos do momento.  

O mágico, então, precisa vender a renda fixa, que não vale tanto, para investir em renda variável, que agora está mais cara. 

É como se todos estivessem dançando uma música, mas sempre um passo atrás do ritmo. No fim das contas, o mágico e sua plateia acabam trocando seus sapatos de dança, mas sempre fora de sintonia com a música. 

Esta dança é guiada pelas lembranças de um passado financeiro – nossa famosa “memória inflacionária”.  

Os participantes dos planos de previdência, influenciados por essa memória, tentam antecipar os movimentos do mercado.  

E, por vezes, acabam mudando de perfil de investimento, ou até mesmo, tirando o dinheiro reservado para um futuro tranquilo, para aplicar em outros tipos de ativos financeiros. 

O problema é que isso pode ocorrer no momento errado, onde os preços dos produtos já mudaram e os gestores acabam precisando vender barato e comprar caro, na tentativa de se adaptarem ao ritmo incerto da música econômica e da expectativa dos investidores. 

Nessa dança financeira, os economistas comportamentais apontam para um fenômeno curioso, o “viés do retrovisor”.  

Basicamente, é quando olhamos para o que passou, tentando prever o que virá. Mas, como sabemos, nem sempre o passado se repete no futuro. 

Portanto, caro participante, antes de mudar o passo na sua dança financeira, lembre-se do dilema do ovo e da galinha.  

Às vezes, a melhor estratégia é confiar no ritmo, sem tentar adivinhar cada nota. Afinal, se nem os maiores sábios sabem quem veio primeiro – o ovo ou a galinha – como podemos ter certeza do próximo passo do mercado? Então, dance com sabedoria! 

Material complementar:  

 

Artigo: “Hiperinflação e estabilização no Brasil. O primeiro plano Collor”- Luiz Carlos bresser Pereira e Yoshiaki Nakano. Revista de Economia Política. https://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/bresser_-_hiperinflacao_e_estabilizacao_no_brasil_-_o_primeiro_plano_collor.pdf 

Vídeo:  

  1. YouTube: “Hiperinflação e Plano Real”  

https://youtu.be/h4oL-6n3Zm4 

  1. TED: Tali Sharot: “The optimism bias” 

https://www.ted.com/talks/tali_sharot_the_optimism_bias?utm_campaign=tedspread&utm_medium=referral&utm_source=tedcomshare 

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